segunda-feira, 5 de julho de 2010

Livro: SOU MULHER - continuação.

Agora, um pouquinho de crônica. Escrita em 2008. Esta crônica também está presente na Revista Literária Plural nº 3.
LARGO DA CARIOCA, LARGO DE TODOS NÓS.


Caminhar pelo Largo da Carioca é uma experiência única. Deixando de lado os perigos inerentes de uma cidade grande como o Rio de Janeiro, podemos encontrar uma diversidade de sons, odores, cores e sensações que formam uma mistura, às vezes repugnante e, sempre interessante. Passar por ali e, observar silenciosamente, essa deliciosa confusão é marcante. O cheiro do dendê invade as narinas e manda nossa lembrança para a outra cidade onde tudo nasceu. Muito melhor do que mais adiante, onde o cheiro insuportável dos dejetos dos transeuntes nos faz detestar Cabral por ter começado tudo isso.
Fileiras de barraquinhas expõem o que é artesanato entre outros itens nem tão únicos ou legítimos. Distribuidores de folhetos fazem fila como num “corredor polonês” e, pior do que apanhar, enchem-nos de (in)úteis papéis de empréstimos; nesse momento temos a perfeita idéia de como anda a vida dos brasileiros, atolados em dívidas, contraindo umas para pagar outras. E, a bola de neve cresce...
Cresce mas não permanece, porque no verão, o sol que cai à tarde não deixa nada intacto; a não ser a Estátua Viva, que permanece de pé, coberta de tinta tentando sobreviver e chamar mais atenção do que o restante da praça. E, assim, segue aturando os bêbados, os curiosos e algumas poucas crianças que passam e tentam, a todo custo, fazê-la mover-se; muitos já sabem que essa mágica só é conseguida, depositando um trocado no recipiente abaixo dela e, aí sim, ganhamos até beijinhos. Outros artistas ali se encontram, vendendo seu produto que a mídia não divulga por achar que não há campo para eles: humoristas, cantores de todos os gêneros – brega, “covers”, índios (?) – mostram seu trabalho e vendem muito, se assim não o fosse, já teriam desistido. E quem perde é a própria mídia. O som desses artistas mescla-se com os evangélicos que, aos gritos e, por vezes cantorias, tentam convencer aos passantes que o inferno é aqui; quer dizer, ali, literalmente. Porque esse Largo é o próprio, embora, sob as vistas e bênçãos do Sagrado Convento de Santo Antônio.
E, assim, ocupa-se cada metro quadrado desse espaço público e tão democrático. Se alguém foi esquecido, perdoe-me. Faça seu manifesto, grite, proteste. Esse é o espírito reinante nesse Largo de Todos Nós.

4 comentários:

  1. oi katia
    fiquei muito feliz com a inauguração da busto do cacique tamoio guaixará. fiquei ainda mais contente por saber que a obra tem a autoria do companheiro! que boa notícia! finalmente o pedestal vazio ganhou um busto, a altura dos homenageados da ilha e na praia que a ele pertence. viva guaixará!

    ResponderExcluir
  2. Obrigada!!! Guaixará merecia mesmo uma homenagem como essa.

    ResponderExcluir
  3. Você é Fantástica! Somo fãs dos seus texto.
    Boa sorte em sua brilhante e vitoriosa jornada e um grande abraço.

    Gilson Di Souza e Julia Palmieri
    Cia. Axullé 7 Axupé - Dupla do Conto

    ResponderExcluir
  4. Queridos: vcs são sempre muito gentis. Que bom que meus textos tocam seus corações. Grande beijo.

    ResponderExcluir